Apoio às escolas - Momento 5

Estamos, como todos sabemos, no mês em que se comemora a leitura. Por essa razão, acho que deveria partilhar convosco os desafios em que, partindo de uma frase de um escritor, chegamos a um texto. Acredito que, quando o fazemos, despertamos a curiosidade pelo texto lido, mas também pela forma como as palavras foram utilizadas. É algo que faço sistematicamente: assinalar frases que nos deixam sem fôlego, que nos prendem a atenção. Acredito que é assim que começamos a valorizar no livro, para além da história, a beleza do texto.

Deixo 3 hipóteses, pois sei que, em algumas escolas, já fizeram um deles. Ficamos com mais escolha.

Momento 5

Desafio nº 36 – uma frase de um conto de autor, usando as palavras por ordem inversa

Peguem, desta vez, num livro de contos.

Procurem a última frase de um dos contos.

Nota: A razão para escolhermos contos é que, normalmente, as frases finais são mais enigmáticas, ou mais abertas, ou mais profundas; além disso, como são vários, têm mais escolha!

Essa frase será escrita de trás para a frente no vosso texto, polvilhando a vossa história em 77 palavras de onde em onde. A distância entre palavras é livre.

Não se esqueçam de enviar a frase original e, se puderem, pôr em bold as palavras.

E digam-nos de que livro retiraram a frase, queremos todos saber!

Aqui fica o meu:

Luísa Costa Gomes, in Contos Outra vez – “O Pico de Furcht” Tudo o que é meu, guardo-o fechado num armário pequeno.

Pareceu-me demasiado pequeno o mundo que reservaras para mim. Acabavas de me enfiar num armário, teu, num espaço de ninguém. Aquele nem sequer era um mundo verdadeiro. Era um espaço fechado ao exterior, esse exterior de mim onde te encontras e onde encontras a tua vida. Este passou a ser eu. Guardo-o. Sei que é só meu porque não mais te vais lembrar de quem sou. É o que sei, que o tudo, o nosso, nunca regressará. Margarida Fonseca Santos

EXEMPLOS:

Às vezes sinto que o meu mundo é pequeno, tudo como um armário que está num enorme vazio sem se poder mexer, fechado. Tudo o que vi, senti e ouvi não esqueço, guardo-o; tudo o que foi meu será sempre teu, pois neste lugar não tenho onde guardá-lo, é um mar de solidão que queima meu coração. Guardo para sempre o que foi meu, mas tudo entrego a ti, para o levares contigo para todo o sempre. (Nádia Moreira, 11 anos -  Escola EBS de Pinheiro - Penafiel, prof Arménia Madail  (usou o meu exemplo…))

Jovem, bela! Jamais se varrerá do meu pensamento. Era loura. Sim, uma rapariga loura. Ali estava, sentada por debaixo daquela imponente sequoia. As raízes salientes abraçavam-na. Costumava ir para lá, desenhar. Sozinha, sem mais ninguém. Certo dia soube que morrera. Não quis acreditar... o peso do mundo caiu-me em cima. Na província a notícia voou. Para quê, deixar tudo para depois? Poderá ser tarde... Nessa noite, não partiu somente ela tal como ela a minha alegria desapareceu. (Liliana Macedo, 15 anos, Ovar)

Eça de Queiroz in Contos - "Singularidades de uma rapariga loura" Como partiu nessa tarde para a província, não soube mais daquela rapariga loura.

A mulher perguntou “como me amas” e ele respondeu “com o coração”. No final do dia ele abriu-lhe a mão disse “está aqui a chave da nossa casa”. Ela largou, lacrimejou e disse-lhe “eu nunca irei ver o nosso futuro”. Ele abraçou-a e retorquiu-lhe “O importante é que nós amamos da mesma maneira”. A beleza deste amor é enorme, a verdade verdadeira é que a mulher era cega e ele não. Afinal, amar é com o coração. (Adriana De Pinho Moreira, 16 anos, França)

Afinal, a verdadeira beleza está no coração. (A bela e a fera)

 

Desafio RS nº 34 – frase de Mia Couto

Vamos hoje usar uma frase de Mia Couto, do seu livro

«Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra»

É esta: «O homem que vive em espanto deixa portas abertas no sonho.»

Que história vos surge ao ler isto? Podem usar a frase ou não.

Deixo-vos aqui a minha:

Vivia espantado, diziam. Não conseguia deixar de sentir que, a cada instante, o mundo se transformava de forma estranha, ou melhor, se transtornava de forma insana. Por isso, espantava-se com pequenas coisas, às vezes mesmo muito pequenas, como um sorriso trocado com carinho entre dois desconhecidos por nada, ou um abraço entre colegas depois de conseguirem, juntos, um feito. Por isso, sonhava muito. Sonhava com um mundo transformado sem transtornos, capaz entranhar, sem estranhar, uma outra sanidade. Margarida Fonseca Santos

Desafio RS nº 34 – frase de Mia Couto

EXEMPLOS:

A Chuva

Era uma vez três meninos que gostavam de ver a chuva a cair, eram pobres mas felizes e viviam no campo. Estavam a brincar quando começou a chover, uma chuva miudinha, não sendo isso que os impediu de se divertirem nas poças de água que se formaram. Riam, riam, riam, pois a diversão era imensa, até que chegou o Pai e disse:

– Não riam alto, que a chuva está é dormindo…

O que quereria dizer com aquilo? (Diogo Florentino, 11 anos, Torres Vedras)

Quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. E se não se fechar a porta? E se os sonhos forem demasiado grandes para entrarem pela janela? Ficarias espantado se visses, mesmo que de relance, a imensidão da inocência de alguns. A criatividade de alguns para sonharem num mundo tão bondoso… Com um coração de portas sempre abertas! Ainda com a esperança de que se espantem e de que corra tudo bem. Pois, realmente, quando sonhamos somos livres. (Ana Nogueira, Filipe Santos, e Maria Outeiro, 13 anos, Colégio Paulo VI – Gondomar, Prof.ª Raquel Almeida Silva)

Não tenho ideias, histórias para contar, não tenho sonhos e, desde que me lembro, penso que a porta está fechada. Não sei como a abrir. Será com o amor? Felicidade? Cada um terá que descobrir. Cada um é diferente, logo, a sua chave também. Existem pessoas que conseguem logo abri-la, outras não, e eu também ainda não. Quando eu descobrir essa chave, nada me vai parar. Quero conseguir sonhar e acreditar! Subitamente, abri a porta, vi tudo! (João Saramago, 13 Anos, Colégio Paulo VI – Gondomar, Prof.ª Raquel Almeida Silva)

 

Desafio nº 15 – com frase retirada de um livro

Cá vamos nós de novo... O desafio desta próxima dezena de dias é o seguinte:

Abra (sem fazer batota, completamente à sorte) um livro de que goste muito ou que esteja a ler neste momento. Procure então uma frase ou parte de frase que, nessa página onde caiu, lhe chame a atenção e que tenha no máximo dez palavras (pode ter menos: cinco, três, oito...).
Esta frase estará dentro do seu texto, onde quiser. Preparados? Vamos a isto!!!

Deixo aqui a minha: "Odeio os semáforos!", livro de crónicas António Lobo Antunes
O trânsito parecia decidir por mim: não iria chegar a tempo. Ainda pensei: “odeio os semáforos!”, seria verdade? Não só não pretendia encontrar-te, como teria detestado despedir-me de ti. Fora uma relação breve, estranha. Não chegara a ser nada. Quando o verde apareceu, acelerei. O coração também. Uma vertigem levou-me para a tua rua. Vi-te, parado no semáforo que se pôs verde para te permitir saíres da minha vida. “Odeio os semáforos”, repeti, desta vez a sério. Margarida Fonseca Santos

EXEMPLOS: acreditam que não tenho nenhum de crianças ou jovens?

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